sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Categoria - Crônicas

Alma inocente

Ana Clara Kanitz dos Santos

            Há poucos meses trás, estava sentada na varanda de casa, e peguei-me pensando na vida. Lembrei-me do noticiário que havia olhado mais cedo, nele, o apresentador falava com normalidade sobre notícias brutais, como se fosse comum o que acontecia e era comum. Ele também falou sobre diversos assuntos, falou sobre assaltos, favelas, fome, pobreza, tudo com certo drama.
            Por mais normal que isso seja sempre irá me assustar, não importa quantas vezes eu olhe ou escute, sempre me assusta o fato do ser humano matar a própria  raça sem motivo algum, a sangue frio.
            Eu vivo no paraíso, meu caro leitor. Minha cidade é o paraíso comparado com outras. Vivo numa casa boa, com uma família maravilhosa e amigos que posso contar e comida farta. A cidade é calma, cercada de pessoas do bem, muito bem equipada. O que tenho que reclamar?
            Depois de um tempo, ouvi minha mãe me chamar, fazendo com que eu  acordasse dos meus pensamentos. Levantei-me e me dirigi até ela, que olhava atenta para a televisão, sentei-me e comecei a prestar atenção na mesma, que passava a seguinte notícia: “Encontrado corpo do menino Bernardo Boldrini desaparecido há 10 dias”. Todos ficamos chocados com a forma da morte. Como um ser humano é capaz de fazer algo com a própria família? Com o próprio filho? Com uma inocente criança? Como?!
            O choque foi tão grande porque o menino morava na cidade onde meu avô mora, é a cidade onde minha mãe nasceu e viveu, é a cidade que eu visito todo o ano nas férias escolares. E aquele médico-monstro, por assim dizer, pai daquele pobre menino, foi o médico que atendeu minha avó -que Deus a tenha- quando ela estava no hospital uns anos atrás. Ele conversou com minha família, nunca poderíamos dizer que aquele cara simpático e inteligente seria capaz de participar de um crime brutal como aquele, e contra o próprio filho, numa região como aquela, de gente humilde, mas como sempre dizem: “As aparências enganam”. E o que dizer daquela mulher que participou da morte? Será que nem por um segundo ela imaginou o rosto de seus filhos na face daquela pobre criança? Como ela conseguiu dormir a noite? Perguntas que nunca serão respondidas.
            A gente acha que vive em segurança, mas nunca vivemos. O perigo vive todos os dias ao nosso lado, nós que estamos cegos para perceber, e só passamos a enxergá-lo depois que algo acontece conosco.
            Eu só desejo que essa brutalidade entre seres humanos acabe que possamos compreender mais o outro, que possamos cuidar da nossa vida e contar até dez antes de falar ou fazer algo ruim, e que, finalmente, possamos viver como seres humanos e não como monstros.

            Que a alma deste menino, Bernardo, esteja em paz, junto com as das outras pessoas que perderam a vida injustamente, que foi para o céu cantar melodias serenas com os anjos. Amém. 

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